Insights de vendas B2B que também serviram para vender meu carro

Este post é sobre vendas. A venda do carro em sí é só uma desculpa para escrevê-lo. 

Eu sou fascinado em vendas. E a relação natural que esse assunto gera entre vendedor e comprador, envolvida pela negociação.

Recentemente, aconteceu um episódio peculiar na minha vida: a primeira vez que vendi um carro, o primeiro carro que comprei.

Quais semelhanças seriam possíveis entre vender um serviço de consultoria em Marketing na React, e vender um carro? Sendo que o primeiro é algo totalmente personalizado, envolve trabalho humano e decisões demoradas, enquanto o segundo é em sua essência a venda de um bem material que foi produzido em série?

Neste texto vou relacionar essa semelhança. Continue lendo, e pretendo mostrar que quando se trata de venda, nenhum conceito é descartado.

Foto do Gol que foi vendido no texto. Gol Geração 4, Carro de 2006, na cor prata.

Contexto da Venda

Em curtas linhas, resolvi vender meu primeiro carro, Volkswagen Gol. Modelo: Power 1.6 8 válvulas motor AP. Estava com ele há 8 anos.

A primeira coisa que fiz foi um anúncio bem diferenciado, para destacar o carro. Nesse anúncio criei um texto bem raro de se ver em classificados.

Print do facebook com o texto, que conta a história misturando com os atributos do carro. 81 reações, 64 comentários, 1 compartilhamento.

O texto original ainda está disponível aqui

Realmente era um bom produto. Não é tão confortável quanto um carro seminovo, mas tem todo o benefício de facilidade de peças, manutenção simples, e etc.

Enfim, esse não é um post sobre mecânica. Vou falar somente o necessário sobre o carro, até porque, já foi vendido! haha

Antes de Tudo: Encontrar o perfil do cliente ideal

Feito o anúncio, é a hora de começar a receber as ofertas, filtrar os golpes e curiosos, e com sorte, começar a marcar as visitas de potenciais compradores.

Nesse mercado, a verdade é que o valor do produto não está no produto em sí, mas na cabeça do comprador:

Se ele entender que é o momento de trocar de carro, que aquele carro é para ele,  que o valor está compatível e que é de boa procedência, a venda está feita. 

E ai vem o primeiro insight: se você trocar a palavra “carro” por “fornecedor de marketing”, faz todo sentido. Estamos falando de:

  • Timming de contratação;
  • Fit de cliente/produto;
  • Valor compatível com preço;
  • Confiança no fornecedor.

 

Outro insight: Toda venda tem um funil, veja:

  • 700 visualizações de anúncio (OLX estimado + FB)
  • 28 Leads (pessoas que entraram em contato)
  • 3 Leads Qualificados (manifestaram interesse em ver o carro)
  • 1 Venda realizada.

 

A venda foi feita após duas visitas, e isso tem tudo a ver com a definição de ICP. Vou descrevê-las abaixo:

Comprador Errado

Um comprador veio de longe (um pouco mais de 100 km) para ver o carro. Examinou o carro durante 4 horas. Apontou praticamente todas as imperfeições do carro.

Neste contexto, tentou baixar o valor para o máximo possível. Aceitei fazer a R$ 14.600,00 nas condições em que o carro estava. A venda quase foi feita, mas o PIX deu problema.

Marcamos para realizar a venda outro dia. Dois dias se passaram e o comprador enviou uma lista, atualizando sua proposta para R$ 12.000,00.

Considerando que o valor anunciado era 16.900, a proposta equivalia a redução de quase 30% do valor.

A justificativa: uma lista dos itens que seriam gastos no reparo que justificariam tal desconto.

Imediatamente recusei a oferta. Mas guardei a lista para mais tarde.

Comprador Certo

O comprador que levou o carro estava procurando um exemplar similar há quase 3 meses. Olhou pelo menos 6 carros diferentes e estava quase desistindo de sua busca (o tal motor AP 1.6).

Quando viu o carro por fora, sorriu. Quando acelerou o carro, sorriu. Quando abriu o capô, ficou feliz em confirmar que achou o que estava procurando. Na negociação, apresentou o valor que possuía, que era compatível.

Comprou o carro muito próximo do valor anunciado, abatendo somente R$ 400,00.

Em outras palavras, o valor foi reduzido em 2,3% do valor.

Porquê definir um ICP importa

Se ainda não está claro, vale a pena refletir sobre o ICP. Você tem clareza do perfil ideal de cliente da sua empresa?

Essa é a principal razão de eu estar escrevendo este post, por isso vou deixar em negrito: Observe o abismo entre 30% e 2,3%. É por isso que definir o ICP importa. 

No mercado de serviço, o que mata a lucratividade é vender para o perfil de cliente errado.

Todos os dias milhares de empresas perdem margem porque vendem para as pessoas erradas.

Foi assim durante um tempo com a agência, e quase repeti isso na venda do carro.

O perfil de cliente ideal era: alguém que valorize a mecânica do carro, com ênfase no tal motor ap 1.6 de 8 válvulas, que muitos mecânicos apontam como “o melhor motor da história da volks”.

E ai ficou claro o tempo perdido com o cliente fora do perfil ideal.

O primeiro comprador procurava por estética. Todos os problemas reais do carro eram de estética (queimados de pintura, borrachas e plásticos ressecadas).

A verdade é que o primeiro não era o comprador ideal. Como este carro tem um motor “raro” de encontrar a venda, o caminho mais natural era “suspender” a venda no primeiro momento que notei que o motor não era o principal para o primeiro comprador.

Sem mais delongas, vou listar aqui todo o aprendizado desta negociação.

Conhecimento utilizado para trazer a melhor negociação

Definir o cliente ideal é o primeiro passo. O segundo é promover a melhor negociação possível.

Você pode seguir pelo caminho de estabelecer um inimigo, ou estabelecer uma negociação onde os dois possuam um interesse comum que é a realização da venda.

Então vamos para as técnicas / ações que consegui “aproveitar” de vendas B2B para realizar a venda do Golzinho.

Estabelecer Empatia

Essa é a prioridade no início da negociação. Ninguém vai comprar nem um real de você se não te considerar confiável.

A grande verdade é que nós compramos e vendemos para quem gostamos. Quando isso não acontece, manipulações entram no jogo.

Por manipulações, quero dizer: desconto, ofensas, problemas fictícios (um pouco do que aconteceu na primeira negociação).

Se você acha que isso é exagero: tente se imaginar comprar um carro de uma concessionária que “beirou a desonestidade” durante a negociação.

É claro que não é necessário fazer amizade com o comprador/vendedor, mas é preciso estabelecer o rapport: que se resume em estabelecer uma conexão de empatia entre as partes.

Retirar Objeções para facilitar a venda

A recomendação de um amigo entendido do assunto era simples: deixe o carro melhor possível, porque a pior coisa é perder tempo para mostrar para 5, 10 pessoas e não vender.

Lembra da lista que o primeiro vendedor fez? Imediatamente levei o carro ao mecânico, que:

  • Limpou o motor, retirando a “má impressão” de vazamentos que na verdade não existiam;
  • Atestou que a mecânica do carro estava em bom estado.

 

Quando ficou claro que o comprador seria  atraído pelo motor, tudo o que foi preciso fazer foi limpar o motor, para facilitar ao futuro dono ver que ele encontrou o que estava procurando. Nesta mesma ideia, vendi o carro com o documento em dia e sem multas. Quando o segundo comprador perguntou sobre documentos, a resposta foi “está pago”.

Ele também tinha dúvidas se teria problema em passar o carro para seu nome durante a pandemia. O que fiz? mandei o link do site do detran que dizia que não era necessário. Parece bobeira, mas uma objeção a menos é uma possibilidade de venda a mais.

E o que isso tem a ver com vendas em B2B? Às vezes atropelamos as objeções e poluímos nossa comunicação (a sujeira do motor), dificultando o cliente ideal chegar a constatação de que aquela é a proposta/empresa/solução certa.

Repense sua comunicação, credenciais e proposta: mude ordem dos slides, pense nas piores perguntas que o cliente pode fazer sobre objeções, e esteja pronto para respondê-las.

Estabelecer um Diálogo Transparência

Com a parte da lista que dizia respeito a estética, não fiz nada: os queimados de pintura e borrachas ressecadas foram vendidos junto com o carro.

Naturalmente, falei tudo isso ao vendedor. Quando ele perguntou sobre o estado do carro, falei todos os pontos fortes, mas também os fracos. 

O próprio comprador comentou que isso chamou atenção dele, e  que criou confiança pois eu estava facilitando as coisas.

E assim como no mercado de “venda de carro”, também é raro achar transparência em empresas B2B.

Transparência também reforça a empatia.

Foto mostrando os queimados da pintura, rem razão do Sol, na parte de trás do veículo.

Balizar valores, para não Gaguejar

O meu principal erro no primeiro vendedor foi responder “posso fazer por 15” quando ele perguntou “qual seria o melhor valor”.

Enquanto isso, o preço na Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) aumentou: Em março de 2021 custava R$ 17.500,00. Em Abril, R$ 18.600,00.

Print da tabela fipe, comprovando que em Abril de 2021 o Modelo do Veículo está em R$ 18.615.

Em B2B, o que dá para aprender com isso?

Sempre que se entra em uma negociação é preciso ter o “piso” bem estabelecido, e não aceitar nada abaixo dele.

Até quanto vale cair a margem para atender um cliente? Isso é importante na venda de um carro, mas mandatório na venda de serviço, principalmente se este for recorrente.

Se você propõe um fee de R$ 10.000 mensal, e acaba fechando por R$ 7.000,00 e não “ajusta o escopo”, a cada fatura mensal você sentirá os R$ 3.000,00 indo embora. E não estou falando de margem operacional, estou falando de sentimento, que corrói aos poucos a relação entre contratada e contratante.

Caminhos para justificar o preço

Se alguém pergunta: por que o valor é esse, o que você responde?

Praticamente qualquer resposta serve, desde que seja dita com confiança. Se gaguejar, o preço abaixa. 

Buscar conhecimento sobre o Produto

Existem ‘Golzinhos’ no mesmo ano, na mesma quilometragem, que são vendidos pelos tais R$ 12.000.

Porém, não são o mesmo motor, não estão na mesma condições. E tem os valores diferentes na tabela Fipe (que baliza os preços de carros usados).

Se eu não tivesse me informado sobre, certamente aceitaria os doze mil.

O aprendizado: quanto menos se entende do produto, menos você consegue defender o valor dele.

Eu tenho várias formas de acesso a empresas no mercado, onde encontro escopos idênticos à propostas que consigo vender, pela metade do preço. Isso pode acontecer provavelmente porque os vendedores (nesse caso englobo os diretores da empresa e seus executivos de vendas) não defendem, valorizam e reconhecem o valor do seu próprio trabalho, aceitando valores que os forçam a cair qualidade, alimentando o ciclo vicioso (e perigoso):

Valores baixos > margem baixa > salários baixos > estresse alto > resultado baixo > valores baixos… 

Condições emocionais para não vender no desespero

O cenário atual do Brasil gerou uma valorização repentina em carros usados. O valor da Fipe e deste carro está maior que o valor que eu o comprei há 8 anos atrás. Isso gera uma situação de conforto, onde eu sinto que “não perco dinheiro” se for paciente.

Somado a isso, um amigo (Gilson) comentou comigo que esta venda foi feita nas melhores condições psicológicas: Já estava com outro carro e não precisava do valor da venda do carro “para ontem”.

Na prática, isso quer dizer que vendi em 20 dias, mas podia esperar 3, 4 meses para fazer esta venda.

Isso está totalmente ligado com a minha estratégia de venda na agência: nós possuímos uma reserva financeira que nos permite ter liquidez durante mais de meio ano, se todos os clientes saírem da noite para o dia.

Em outras palavras, está tudo bem se uma negociação não dar certo. Se uma proposta não fechar porque o cliente encontrou uma proposta por 15% a menos, não existe pressão interna para cobrirmos este preço. Dá tempo de ir ao mercado e buscar outro cliente.

A melhor valorização: Conexão Emocional do Produto

Um carro de 8 anos conta uma história. E quando essa história é contada, ajuda a mostrar as qualidades do carro.

Foi o carro que levou minha esposa para o altar. Não preciso falar muito mais que isso para mostrar o quanto nós confiávamos no Gol.

Foto da esposa do Oséias, Luciana, chegando ao casamento dos dois, saindo do banco de trás do Gol.

Esse foi o insight que pude constatar que mais me fez pensar sobre a forma que eu vendo os trabalhos da React, e ajudo empresas parceiras a venderem:

Você gosta do seu produto?

Você sente que vale o preço? 

Considerando os benefícios e comodidades gerados, você pagaria o que está pedindo para o seu cliente? 

Você sente emoções positivas ao vender? 

Traduzindo a ideia para os nossos serviços: quando negociamos soluções B2B precisamos lembrar das forças que fundaram a empresa, de toda a equipe que faz o projeto acontecer, suas histórias e sua vontade de fazer dar certo. 

Quem entra com esse pensamento na mesa de negociação está apto a defender os valores, encantar o cliente e fazer as melhores vendas possíveis.

Você concorda? Se sim, ou não, deixe seu comentário!

Agradecimentos:

Aos amigos Gilson, e Marcelo, que me ajudaram a trocar o carro. Ao Adrian, Eduardo e Pedro, que incentivaram a comprar outro (fica pra outro post). Ao Oséias (pai) e Sr. Laércio, que guardaram o Gol pra mim, e ao Heitor, o novo dono (sortudo).

Essa é a minha homenagem final a esse carro forte, compacto e companheiro que tive em minha passagem. Seja feliz, Golzinho!

Foto do cachorro do Oséias, Jim Gordon, com a cabeça para fora da Janela do Banco de trás. O Cachorro foi enquadrado no retrovisor do carro, mostrando a visão de quem dirige.

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